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ANOTAÇÕES

INTRODUÇÃO

Este projecto começou porque senti necessidade de me aproximar da fotografia com o coração.
Sem querer entrar no cliché Ai, no meu tempo é que era!, mesmo porque não sou assim tão velha e até vivo bem com esta evolução tecnológica.
Mas, de facto, a revolução digital na fotografia foi arrefecendo a minha paixão por ela.
Perdi a vontade de fotografar para mim, talvez por diariamente ver muitas imagens no tempo que passo online e talvez porque a produção massiva de imagens encheu o meu cérebro com lixo virtual e visual.
Claro que há diferentes tipos de lixo. Há lixo que é um luxo.
Em determinados trabalhos quase que não há outra forma, é muito mais rápido.
Mas no meu trabalho pessoal precisei de procurar outra coisa.
Então resolvi ir lá atrás.
Ao passado. Da fotografia e ao meu.
Há anos tive várias experiências com a câmara escura e trabalhei também muitas vezes a fotografia com crianças.
Este ano (2014) apeteceu-me começar a fotografar para mim utilizando câmaras escuras e acima de tudo passar a mensagem.
Acabei o ano com um workshop de pinhole com crianças (e alguns adultos também) e foi muito bom.
É importante mostrar a quem nasceu depois da revolução digital, processos fotográficos que originaram a descoberta do cinema, das máquinas fotográficas digitais e até dos jogos de computador.
A maior parte dos participantes deste workshop não sabia o que é a película fotográfica e sentiam-se muito curiosos pelo processo da câmara escura.
Da captura da imagem à sua revelação no laboratório.
Viajar ao passado no presente, ilumina o futuro!
Não sei de onde esta frase vem, mas li-a algures e ficou.
Por agora tenho registado a imagem (o negativo) em papel fotográfico.
Pretendo trabalhar com película a cores.
Continuar a explorar a câmara escura.
Quero passar para grandes dimensões; explorar a magia do interior da câmara e perceber como registá-la.
O processo de fotografar com câmara escura é demorado.
Saio para fotografar munida de 4 ou 5 câmaras, cada uma com um único negativo em papel.
Decido onde vou fotografar.
Tenho andado essencialmente entre a praia do rock e Caxinas e o parque da cidade perto de casa.
Depois de fotografar, voltar para casa para revelar.
Se o tempo de exposição não for o ideal, regresso ao local para fotografar novamente.
Há uma transformação na noção do tempo, tudo é mais lento.
É um outro tempo, anterior ao do digital.
O processo obriga-me a parar, a pensar, a contar o tempo.
É um teste de paciência.
Uma espécie de meditação.
Um ritual de busca.
Esperar que a magia aconteça.
Que a luz desenhe os seus movimentos no negativo.
Tinha necessidade de ser surpreendida, de andar no sentido contrário do imediato e do instantâneo.
Procurar o que não é óbvio, o lado escondido.

O João acompanhou-me em algumas saídas para fotografar.
Tentei fotografá-lo várias vezes, todas sem grande êxito.
O processo demorado da captura, com longos tempos de exposição e o laboratório com os seus tempos de revelação, pode entrar em choque com o ritmo normal de uma criança de 4 anos.
Apesar da pouca paciência com o processo, acha piada.
Nos primeiros dias quando lhe perguntava se queria vir comigo ao laboratório, dizia que sim com entusiasmo.
Depois disso, prefere ficar no quarto a brincar.


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